A vida me colocou em uma situação que eu considero confortável, quando se trata de falar do estudo de harmonia musical, pude beber um pouco de cada água das fontes que encontrei pelo caminho.
Primeiramente, quando iniciei na música nos anos 60, a gente harmonizava com base no ouvido mesmo. Tirar de ouvido, era como se chamava o ato de ouvir uma música, quase sempre apenas pelo rádio, e entender o que seria a harmonia daquela música, o movimento dos acordes. Era um excelente exercício, e algumas músicas eu guardo até hoje a “façanha” que foi fazer a harmonia no violão como era a gravação da canção. Me lembro quando ouvi pela primeira vez a “Chove Chuva”, no violão do Jorge Ben, e após ouvir algumas vezes a música tocada no rádio, eu tocava a harmonia exatamente igual. Acho que foi a primeira vez que fiz um acorde de Am7 no violão, mas sem saber o que era um Am7, pela sonoridade montei esse acorde aí abaixo:
Por esse processo, “tirar de ouvido”, muito se aproveitava de uma música para outra, ganhava-se no que hoje se chama de percepção musical. O processo é fácil de ser descrito, consiste em ouvir e entender primeiramente o baixo, você “pega” a nota do baixo, digamos, a nota RE, depois a qualidade do acorde, se é um acorde maior ou menor, se é consonante ou dissonante. Com a prática vamos aprimorando esse processo, será um D, ou será um Dm, mais parece um Dm7(b5), ou será um D dim? E aí, você vai se acostumando com a noção de tonalidade, você vai entendendo que se está tocando no tom de DO MAIOR, é mais provável que seja um Dm e não um D. É um processo que alarga a vivência em harmonia. Penso que usei o processo “tirar de ouvido” por toda a década de 60 e parte dos anos 70. Em 1975 fui morar em São Paulo, e aí as coisas mudaram.
Em SP estudei harmonia clássica, hoje chamada de harmonia tradicional. O que caracteriza a harmonia tradicional é que a cifragem é por graus da escala e levando em consideração a relação da nota que está no baixo do acorde e outras notas do acorde. Veja abaixo um exemplo:
Na verdade esse acorde acima é um acorde de C, ele contém as notas do-mi-sol, mas ele está invertido, com o baixo na nota mi, então, a cifra seria C/E, mas a cifragem da harmonia tradicional é aquela que se vê acima, a cifra diz que ele é um acorde de grau I, e aquele número 6 diz que, entre a nota mi(baixo) e a nota do(a mais aguda) existe um intervalo de 6ª. É verdade, mi fa sol la si do, entre mi e do é sexta mesmo. Claro, são muitas as informações da harmonia tradicional, que não posso em apenas um post demonstrar. Mas, atualmente a harmonia tradicional é mais utilizada na música clássica.
Na década de 80 eu já estava de volta ao Rio, e tive o meu primeiro contato com o estudo de harmonia do conhecido e conceituado método da Berklee College Of Music, através de aulas particulares que tive com uma professora que havia se formado lá na Berklee. A omissão dos nomes de meus professores, escolas onde estudei, se deve ao fato de que não desejo responsabilizá-los por meu erros cometidos aqui nos meus escritos do blog. Assim, posso errar a vontade, eles me ensinaram certo, eu é que posso não ter aprendido corretamente! rs rs Na verdade tenho dado minhas contribuições pessoais também, com o exercício de ter dado muita aula de música. Por exemplo, todos os esquemas, desenhos, diagramas, que já postei no blog, são criações minhas, menos a pauta musical, essa não fui eu que inventei!! rs rs rs
Mas, o melhor dos estudos de harmonia que fiz ainda estava por vir, foi quando conheci a Harmonia Funcional, através de uma apostila sem nome de autor, que algum amigo me passou, era uma apostila ainda datilografada naquelas máquinas Olivett, Lettera, ou coisa parecida, mas foi aí que eu passei a entender como harmonizar uma música. A harmonia funcional, como o próprio nome diz, trabalha com funções para cada acorde do campo harmônico, e o harmonizador leva a música para onde desejar, baseado nessas funções que cada acorde tem. A apostila, com o tempo, perdi, mas os ensinamentos ficaram e muito me ajudaram.
Assim, foi uma caminhada, desde os primeiros dias, aos 12 anos de idade, quando ganhei um violão do meu avô paterno, o violão tinha apenas uma corda, a corda fina. Eu não sabia quantas cordas tinha um violão, mas vi que haviam mais 5 cravelhas vazias, e pensei, preciso colocar cordas aí! As cravelhas, um pino de madeira, eram soltas, entravam por pressão no buraco feito para elas. Mas, como não haviam cordas, cheguei em casa, e comecei a tocar naquela corda única que havia no violão, e fui solando, encontrando as notas da melodia da música “Aquarela do Brasil”, e a música foi saindo... toda... e eu pensei, esse instrumento é lindo!
Abraço,
Ivan Siqueira