Primeiramente leia os posts 08 e 09.
Vamos aqui fazer uma análise harmônica de uma música das mais importantes do movimento do choro, a “Flor Amorosa”(Catulo da Paixão Cearense/Joaquim A. Callado). Para os nossos propósitos não há necessidade de analisar a música completa, mas apenas um trecho. Quando analisamos uma música qualquer nos deparamos com o que já conhecemos e com o que não conhecemos ainda. Vamos ver como será essa coisa?
Olhamos a armadura de clave e não encontramos nenhum acidente, nem sustenidos, nem bemóis. Então, o tom principal da música é DO MAIOR ou LA MENOR. Procure uma nota sol, encontrou sol ou sol#? Vemos que existem várias notas sol, então o tom é DÓ MAIOR.
O primeiro acorde que encontramos é o G7, ou seja é o V7 do campo harmônico. O segundo acorde é o C, esse é o grau I do tom, costumamos dizer que é a tônica. Em seguida encontramos um G7/D, esse é um acorde de função V7, mas contém uma nota D no baixo, temos que saber se essa nota D faz parte do acorde. Sim, faz sim, é a quinta do acorde, assim, a função harmônica é V7/5.
No quarto compasso, encontramos um acorde C, é a função I novamente, e veja que antes dele havia um acorde de V7/5. Sabemos que os acordes de função V7 vão buscar repouso(resolução) em um acorde de função I.
No mesmo compasso, surge um acorde C/Bb. Esse é um acorde de C mas com uma nota si bemol(Bb) no baixo. A pergunta é se essa nota pertence ao acorde de C. Não, não pertence, o acorde de C tem apenas as notas do, mi e sol, e, portanto, não tem sib. Essa nota si bemol mostra que esse não é um acorde de C, é um acorde de C7 com a sétima no baixo, ou seja C/Bb é o mesmo que C7/7. Mas aí temos um impasse, esse acorde não tem função direta no campo harmônico de DO MAIOR. Só existe acorde do tipo V7 no quinto grau de uma escala maior, mas o grau V da escala de DO MAIOR é o acorde G7, então C7/7 não é grau V7 da escala em análise.
DOMINANTES
Os acordes que se formam no grau V7 de uma escala são chamados de acordes de DOMINANTES. Se é o acorde do V7 é DOMINANTE PRIMÁRIA. Mas pode ser do tipo V7 e não ser primária, são as DOMINANTES SECUNDÁRIAS. Onde aparecem na escala principal? Não aparecem, mas estão subentendidas. Todo acorde da escala principal tem sua DOMINANTE SECUNDÁRIA, com exceção do grau VII, esse não tem dominante secundária.
Qual a relação da DOMINANTE PRIMÁRIA(V7) e o acorde de TÔNICA(grau I) ? Basta contar um intervalo de quarta justa(2 tons e meio) ascendente, vai cair na resolução(grau I). Exemplo: de G7 até C tem exatamente 2 tons e meio, veja:
Voltando para a nossa análise da música “Flor Amorosa”. Quem é aquele acorde de C/Bb, qual a função dele na música? Já vimos que ele é um C7/7,então é um acorde do tipo V7 secundário, ele deve procurar resolução 2 tons e meio acima dele, veja o esquema:
Agora veja lá em cima na partitura. Realmente, ele buscou um F, mas um F/A. Como existe uma nota la(A) no baixo, precisamos saber se essa nota faz parte do acorde de F. Faz sim, o acorde de F é formado pelas notas fa, la e do.
No quinto compasso temos ainda um acorde de Fm/Ab, um acorde menor que não faz parte do campo harmônico do tom principal de DO MAIOR. Epa, no tom de DO MAIOR tem acorde de F, mas esse é um acorde de Fm, são chamados de acordes de empréstimo modal(AEM), ou seja, pegamos emprestado no tom de DO MENOR. A qualquer momento vamos fazer um post só sobre AEM. Segura aí!
No sexto compasso temos um C/G, esse é um legítimo acorde de grau I, com a quinta no baixo, então a função dele é de I/5.
Em seguida temos três acordes de dominantes, o acorde de A7(dominante secundária) resolveria em um acorde de Dm(esse é o grau IIm do tom principal) , mas acontece que não resolveu, buscou outra dominante, o acorde de D7, esse resolveria em um G, mas não resolveu, buscou outra dominante, o G7, bem, esse é uma dominante primária que acabou resolvendo no acorde de C.
Quando uma dominante não resolve e busca uma outra dominante, dizemos que são DOMINANTES EXTENDIDOS. Mas eu gostava mais do termo como aprendi em 1975 quando morei em São Paulo e estudava harmonia com um jazzista, o termo usado na época era CADÊNCIA DE JAZZ, porque o jazz usa muito isso. As terminologias vão mudando, quem quiser que se atualize(riso).
Assim, a análise harmônica pode ser toda grafada na partitura, veja:
Assim, a análise harmônica pode ser toda grafada na partitura, veja:
Voltamos a qualquer momento com novas análises, e traga seus amigos, um blog adora gente, e gente perguntando coisas, mas o serviço de comentários está com problemas, aguarde!
Abraço,
Ivan